Movimento estudantil é o estudante em movimento. Assim, o surgimento da primeira escola lançou as sementes para o nascimento das primeiras manifestações estudantis. No caso de São Paulo, o primeiro curso superior surgiu no ano de 1827, com a inauguração da Faculdade de Direito do Largo São Francisco e, com ele, iniciou-se a história do movimento estudantil universitário paulista
Ainda no Império, entre os estudantes que tiveram atuação política — sobretudo nas campanhas pela Abolição e pela República — há nomes como os futuros presidentes Rodrigues Alves e Afonso Pena, o tribuno Rui Barbosa, os escritores Joaquim Nabuco e Raul Pompeia, os poetas Fagundes Varella e Castro Alves. Este último, o “Poeta da Abolição”, declamou um dos seus principais poemas políticos, O Século, no Largo São Francisco (1868) e os testemunhos contam que houve grande alvoroço quando disse: “Moços, creiamos, não tarda /A aurora da redenção.”
No período inicial da República foram fundadas a Federação dos Estudantes Brasileiros (1901), o CA (Centro Acadêmico) 11 de Agosto (1903), o Grêmio da Poli (1903) e o CA Oswaldo Cruz (1913). Nesse período também foram realizados alguns congressos importantes, como o primeiro Congresso Nacional de Estudantes (1910), em São Paulo; e o Congresso Pan-Americano de Estudantes (1908), em Montevidéu.
Já com instrumentos de representação e institucionalidade como organizações literárias e centros acadêmicos, participaram da campanha civilista, da entrada do Brasil na guerra contra o Império Alemão, na greve de 1917. Os estudantes também ajudaram a socorrer as vítimas da gripe espanhola que dizimou milhares de brasileiros entre 1918 e 1919.
Episódio marcante da vida nacional, a luta controversa que se estabeleceu pela convocação de uma Constituinte no país, no início dos anos 30, liderada pela classe média paulista, contou com a intensa participação dos estudantes. Em telegrama enviado ao presidente Getúlio Vargas, no início de 1932, cinco presidentes de centros acadêmicos denunciavam a violência contra o movimento: "revoltados pelas inomináveis cenas de selvageria praticadas nesta capital". Assinavam o telegrama: Telêmaco Van Langendonck, presidente do Grêmio Politécnico; Carlos Costa, presidente do CA Osvaldo Cruz; Henrique E. Mindlin, presidente do CA Horácio Lane; José Domingos Ruiz, presidente do CA 11 de Agosto; e João Buarque Gusmão, presidente da Liga Acadêmica.
Outro emblema da participação estudantil na luta constitucionalista foram os assassinatos, em 24 de maio de 1932, dos estudantes Euclides Miragaia, Mário Martins de Almeida, Dráusio Marcondes de Sousa e Antônio Américo de Camargo Andrade, cujas iniciais de seus nomes deram origem à sigla pela qual ficou conhecido o Movimento Constitucionalista: MMDC.
A luta dos estudantes foi ganhando força Brasil afora. Com o surgimento de novos cursos universitários, aumentava o número de centros acadêmicos e a necessidade de articulação dessas organizações. Foi então que se fundou, no dia 11 de agosto de 1937, durante a realização do primeiro Conselho Nacional de Estudantes, a União Nacional dos Estudantes (UNE), com a participação de delegações vindas de várias partes do Brasil. A UNE foi fundada na esteira da elaboração das políticas juvenis do CNJPEP.
A partir daí, o movimento estudantil começou sua estruturação, desenvolveu campanhas nacionais unificadas, conferindo mais força à luta dos estudantes brasileiros. A primeira foi pela participação do Brasil na guerra contra o nazifascismo. Logo depois, pela democratização e por direitos após o Estado Novo.
Após o fim do Estado Novo (1937-45), a necessidade de aprofundar a industrialização brasileira e o novo papel que o País poderia desempenhar naquele pós-guerra fez com que as forças progressistas, democráticas e nacionalistas encampassem a luta pela nacionalização do petróleo em torno da bandeira “O Petróleo é Nosso!”, em 1948. Militares, intelectuais, estudantes, trabalhadores e amplas parcelas de brasileiros se uniram numa das maiores campanhas cívicas já realizadas no país. A UNE foi uma das entidades mais dedicadas ao esforço contra os que menosprezavam a capacidade de o Brasil se industrializar ou defendiam que empresas estrangeiras poderiam participar da extração e produção do nosso petróleo.
É diante dessa luta que se iniciam os esforços, no segundo semestre de 1948, para fundar a União Estadual dos Estudantes de São Paulo (UEE-SP). Nesse momento foram três as principais confluências: a necessidade das entidades estudantis paulistas organizarem as campanhas comuns; a complexidade do movimento estudantil nacional, que exigia um adensamento maior nos principais estados; e a conjuntura política que afunilou campanhas democráticas, as quais mobilizaram setores progressistas de São Paulo e do Brasil.
Tais ingredientes amadureceram o movimento estudantil paulista e acirraram a luta entre projetos distintos. Mais especificamente, a UEE-SP é resultado direto do encontro da juventude paulista com a luta pela nacionalização do petróleo.
Entre os dias 21 e 25 de janeiro de 1949, realizou-se o primeiro Congresso Estadual de Estudantes, que tinha como pauta principal a fundação da UEE-SP. O conclave se deu no centro da capital paulista, no auditório do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo — na Avenida São João, então no número 269. Com a presença de 160 estudantes de todo o estado, o ato político contou ainda com intelectuais, artistas e representantes do movimento estudantil paulista e de outros estados. O presidente da UNE, Genival Barbosa, participou e leu a mensagem enviada pelo General Horta Barbosa — que foi escolhido presidente de honra do Congresso.
Na ocasião, foram definidas uma plataforma política-estudantil e uma direção, que teve como seu primeiro presidente o estudante da Faculdade de Direito de São Paulo e então presidente do Centro Acadêmico 11 de Agosto, Rogê Ferreira, um dos principais líderes estudantis daquele momento e que teve destaque na luta pela nacionalização do petróleo brasileiro.
A participação de Rogê havia sido tão importante para o movimento estudantil em São Paulo e no Brasil que, logo depois, ele foi eleito presidente da UNE, no 10º Congresso, no mesmo ano. Dessa forma, a UEE-SP passou a presidência interina ao primeiro vice-presidente, o estudante de Medicina Walter Belda, responsável pela gestão até o ano seguinte.
No início da década de 50, o presidente Eurico Gaspar Dutra assumiu, junto ao governo dos Estados Unidos, o compromisso de mandar tropas para o conflito que estava em curso na Coréia, desde 1949. A guerra da Coréia já era consequência das disputas políticas da Guerra Fria. Esse era um tema que atingia diretamente a juventude brasileira e foi alvo de inúmeras manifestações contra o envio de tropas. Protestos tomaram as ruas: na Praça da Sé, na Praça do Patriarca, na Rua Direita (no centro de São Paulo).
Em 1950 foi eleito no 2º Congresso o estudante José Colagrossi Filho para presidir a entidade. O 3º Congresso foi realizado em 1951 e elegeu Agostinho Batarello. Embalados por essas mobilizações, os estudantes paulistas realizaram o 4º Congresso da UEE-SP, em 1952, no Mackenzie, que elegeu para a presidência da entidade Fernando Gasparin. No ano seguinte, o 5º Congresso elegeu Almino Afonso.
As reivindicações por melhoria no ensino e estrutura nos cursos também eram objeto de luta das entidades. Em 1954, uma greve no Grêmio da Escola Politécnica foi iniciada em resposta à decisão tomada pela direção da escola de não reconhecer a legitimidade do Grêmio, em represália às lutas desenvolvidas em defesa do direito dos estudantes. A greve contou com o apoio da UEE, que estendeu o movimento para todo o Estado.
Em 1954, a polarização política entre nacionalistas e entreguistas — institucionalmente projetada, respectivamente, no PTB e na UDN —, contaminou o movimento estudantil paulista. Como reflexo, o 6º Congresso da UEE-SP terminou com a derrota da chapa nacionalista, apoiada por Almino Afonso e outros grupos progressistas, e a eleição de Oswaldo Lara Leite Ribeiro.
A gestão de Leite Ribeiro foi o avesso da anterior, mas não conseguiu conter a participação crescente de moças no movimento estudantil. Tanto na Universidade Católica (hoje Pontifícia), como na USP e Mackenzie surgiram novas dirigentes estudantis que compuseram a gestão ou, inclusive, foram oposição.
Uma das principais ações da gestão Leite Ribeiro foi um manifesto clamando às Forças Armadas que pedissem a renúncia do então presidente Getúlio Vargas e que assegurassem “as garantias constitucionais”. O dirigente da UEE-SP aproveitou a crise, agravada com o chamado “atentado da rua Toneleiro” que matou o major Rubens Vaz e feriu o líder udenista Carlos Lacerda, para alinhar a UEE-SP às políticas gerais da UDN.
Em carta assinada na edição de 7 de agosto de 1954, no jornal O Estado de S. Paulo, bradou que “a voz de Carlos Lacerda não se pode calar”. O presidente da UEE-SP empunhou a bandeira que desmontaria “as muralhas da fortaleza da corrupção”, como identificava o governo nacionalista de Vargas. A gestão Oswaldo Lara Leite Ribeiro foi marcada pelo distanciamento dos estudantes e das pautas educacionais, pelo esvaziamento da entidade e pelo seguidismo às orientações udenistas.
Outra luta importante da década de 50 foi contra o aumento do custo de vida. Em abril de 1956, alguns sindicatos de São Paulo fizeram uma aliança com a UEE para dar apoio às medidas anunciadas pelo governo Juscelino Kubitschek para deter o aumento do custo de vida. Esse movimento ficou conhecido como União Operário-Estudantil Contra a Carestia, um de seus líderes era o estudante de medicina da USP, Antonio Carlos Cesarino.
Na década de 60, o movimento estudantil entra em seu auge. Em 1962, a UNE promoveu a UNE-Volante, uma caravana que percorreu o Brasil divulgando as propostas da entidade para a Reforma Universitária. Também ocupou papel central na agenda do movimento estudantil a luta pela participação dos estudantes nos órgãos de decisão das universidades na proporção de um terço. E deflagrada a Greve do 1/3. Em São Paulo, José Serra foi eleito o presidente da UEE e reproduziu no estado essa luta nacional, tornando-se uma das principais lideranças do movimento, o que o alçou à presidência da UNE, no 26° Congresso da entidade, em 1963.
Já sob a tensão do golpe militar de 64, a UEE e a UNE desenvolveram uma série de manifestações contra o corte de verbas para a Educação, o aumento das anuidades e de taxas nas universidades privadas, por restaurantes e materiais escolares, e participaram das lutas contra a repressão e contra o governador do Estado de São Paulo, Muniz Sodré.
Principais articuladores da luta contra o regime, as entidades estudantis foram colocadas na ilegalidade em 1965. O ato partiu do Ministro da Educação, Suplicy de Lacerda, que enviou ao Congresso mensagem para extinguir a UNE, as UEE's, DCE's e CA's. A medida desencadeou um número ainda maior de manifestações em todo o país.
Mesmo ilegal, a UEE-SP realizou o seu 17º Congressos, onde lançou a campanha O Brasil não exportara seu futuro, proposta pelo Grêmio Politécnico da USP para lutar contra a entrega da área amazônica e minerais atômicos à exploração norte-americana.
No mesmo ano, as entidades fizeram um plebiscito nacional para saber a opinião dos estudantes sobre o decreto Suplicy de Lacerda e marcar a resistência contra a medida. Mais de 80% dos votantes foram contrários ao decreto militar. Em 1966, no bojo dessas lutas, os estudantes paulistas elegeram Antônio Funari Filho para presidir a UEE.
A defesa da educação nacional e pública ganhou centralidade na luta contra o Acordo MEC-USAID. Firmado entre o governo brasileiro e o norte-americano, ele determinava que as instituições educacionais do país se submetessem aos critérios e regras utilizados nas universidades dos Estados Unidos, prenunciando a privatização do Ensino Superior brasileiro.
O clima era de grande tensão e, em setembro de 1966, pipocaram manifestações em todo o Brasil, fortemente reprimidas pela polícia. Campus universitários, bibliotecas e laboratórios foram invadidos para prender os estudantes. Em 22 de setembro, a UNE decretou o Dia Nacional de Luta contra a Ditadura. Todo esse movimento ficou conhecido como Setembrada e foi nele que se despontou como liderança paulista o estudante de direito da PUC e presidente do Centro Acadêmico 22 de Agosto, José Dirceu, eleito presidente da UEE em 1967.
As diretorias da UEE eram eleitas pelo voto direto dos estudantes e, em 1967, esse processo foi conturbado. O resultado da eleição, da qual participaram milhares de estudantes, foi questionado e foram divulgados dois resultados diferentes. A consequência disso foi que, durante quase um ano, coexistiram duas diretorias da UEE. Uma tendo a frente a estudante Catarina Melloni, que participava da AP - Ação Popular, grupo político que tinha forte hegemonia no movimento estudantil nacional, e a outra presidida por José Dirceu, que era da Dissidência, grupo que vinha de um rompimento com o PCB.
A divisão da UE durou pouco. Em agosto de 67, foi realizado no Conjunto Residencial da USP - Crusp - um Congresso da UEE com cerca de 5 mil estudantes, que ganhou manchete em vários jornais, anunciando que mais de 90% dos Centros Acadêmicos do Estado consagraram José Dirceu como presidente da entidade.
Apesar do cerco da ditadura e do aumento da repressão, a UEE-SP lançou o seu jornal em 1968. Na edição de julho, divulgou com detalhes os acontecimentos da passeata dos 100 mil no Rio de Janeiro, dando o tom da situação de crise e das ameaças crescentes contra a democracia e a liberdade. O movimento ganhou um acentuado tom político e ideológico. Análises sobre as mobilizações na França, em maio de 68, davam respaldo teórico às manifestações no Brasil.
Ao lado dessa luta, a UEE não se descuidava das questões educacionais e das reivindicações estudantis. Promoveu junto com os centros acadêmicos e professores da USP discussões sobre a proposta da Universidade Crítica. Foram criadas comissões com o intuito de implantar uma autogestão para desenvolver cursos-pilotos de Ciências Sociais e Filosofia. Para tal, uma programação de debates e atividades foi coordenada pela entidade. Entre os temas em discussão estavam: A Crise na Universidade; O golpe de 64 e a política do governo; Transporte coletivo e Metrô; Revolução na América Latina; Sindicato, Intervenção e Arrocho; Política Internacional; Habitação; Inflação e Salário; e as lutas estudantis.
Para driblar a repressão, o movimento estudantil paulista inovou nas formas de manifestação. Realizava comícios relâmpagos e os comícios de ponto, nos quais apenas a liderança principal conhecia o endereço da manifestação, para não vazar a informação. Algumas vezes, os atos eram marcados para o mesmo dia, mas eram pulverizados para mais de 30 locais diferentes na cidade.
Ao perceberam que essa fórmula já estava desgastada, os dirigentes da UEE-SP começaram a organizar as ocupações nas universidades. A primeira foi a PUC, seguida da USP - na Maria Antônia, e da Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Também o Crusp, chamado de território livre, foi ocupado e lá só entrava quem era autorizado pela UEE. Muitos anos depois, José Dirceu deu um depoimento explicando porque o movimento optou pelas ocupações: "Por que ocupação e não greve? Porque greve desmobiliza, greve é praia, cinema. E o que é ocupação? É alegria, é festa. É também a segurança, o tiroteio com a direita, são os grupos armados nos telhados. Ocupação é experiência do novo, da audácia, da ousadia".
Os acontecimentos no quarteirão da Rua Maria Antônia, onde ficava a Faculdade Mackenzie e a Filosofia da USP - uma defronte da outra - foram um dos mais marcantes do movimento estudantil paulista.
A USP encontrava-se ocupada desde junho pelos estudantes que resistiam ao regime militar. Tudo corria sem maiores sobressaltos até o dia 2 de outubro de 1968. Alguns estudantes faziam um pedágio na rua Maria Antônia para arrecadar recursos para a participação no Congresso da UNE, quando foram agredidos por estudantes do Mackenzie. Iniciou-se ali o Conflito da Maria Antônia, como acabou conhecido o episódio.
O clima se acirrou dando início a uma verdadeira batalha campal. Na USP, cerca de 2.500 estudantes liderados pelo presidente da UNE, Luis Travassos, e pelo presidente da UEE, José Dirceu, portavam pedras, bodoques e coquetel molotov. Do outro lado, mais de 10 mil amotinados no Mackenzie estavam armados com bombas de ácido misturado a cal virgem, rojões, pedras, bodoques e coquetel molotov.
Na manhã do dia 03, a polícia chegou, ocupou o prédio do Mackenzie, e começou a disparar bombas e tiros contra a USP. O estudante José Guimarães, gravemente ferido por um tiro, foi levado para a Santa Casa de Misericórdia, mas não resistiu. O saldo do conflito foram muitos feridos, um morto, e o incêndio do Prédio da Faculdade de Filosofia.
O presidente da UEE, José Dirceu, pegou a camiseta ensanguentada do colega e fez um discurso ainda na Rua. Dr. Vila Nova, de onde os estudantes seguiram em passeata pelas ruas do centro para protestar contra a morte de Guimarães. Ao final da manifestação, 35 pessoas foram presas.
Poucos dias depois, aconteceria em lbiúna, no interior de São Paulo, o 30° Congresso da UNE. A participação da UEE-SP na organização do encontro foi ativa, já que a entidade estava sediando o evento e, além disso, José Dirceu era um dos candidatos à presidência da UNE.
O Congresso de Ibiúna entrou para a história do movimento estudantil e do país por ter sido desbaratado pela polícia, acarretando na prisão de mais de 800 estudantes. Nele, as nove principais lideranças nacionais do movimento estudantil foram presas e encaminhadas ao DOPS: Wladimir Palmeira, José Dirceu, Luis Travassos, Antonio Ribas, Edson Soares, Franklin Martins, Paulo Steller, Luis Raul Machado e José Arantes.
Protestos pela libertação dos líderes estudantis aconteceram em todo o Brasil. Em São Paulo, o Crusp, um dos principais focos de debate e organização do movimento, foi invadido no final de 68, em uma operação da qual participou o Exército, a Polícia Federal e a Militar. Estudantes foram detidos sem acusação e o local fechado.
O golpe da ditadura contra as entidades estudantis foi duro. Desde 1965, as entidades já atuavam na ilegalidade; a partir de lbiúna e com o Ato Institucional n° 5 elas mergulharam profundamente na clandestinidade. A diretoria da UEE se desarticulou e foi reconstruída apenas 10 anos depois.
Inaugurava-se com esses acontecimentos o período mais duro de clandestinidade para o movimento estudantil. A USP permanecia sendo um dos poucos focos de resistência, com o funcionamento de alguns centros acadêmicos. Em 1971, foi criado o Conselho de Presidentes dos Centros Acadêmicos da USP para tentar coordenar a luta dos estudantes da Universidade. No segundo semestre daquele ano, foi realizado o movimento de boicote ao restaurante universitário, que tinha duplicado o preço das refeições.
Com iniciativas pontuais, o movimento estudantil foi mantendo algumas atividades, apesar da repressão e da continua prisão de estudantes. Em 1972, um protesto pela construção de um prédio para a Faculdade de Filosofia no Campus do Butantã, que desde sua transferência da Maria Antônia funcionava em barracos, foi feito de forma diferente, com uma chopada para recepcionar os estudantes e lançar a pedra fundamental do prédio. Até o reitor, Miguel Reale, foi convidado. Mesmo a busca de formas festivas para fazer as reivindicações era monitorada de perto pela repressão. A chopada da Filosofia foi acompanhada par e passo pela OBAN e pela Polícia Militar, que fazia a ronda com metralhadoras pesadas, como se estivessem preparados para a guerra.
Ainda em 1972, as entidades da USP assinaram manifesto contra as prisões em curso. E, em 23 de junho, uma reunião com 17 dos 26 CA's existentes na USP criou o Conselho de Centros Acadêmicos - CCA, que lançou nota em solidariedade à greve de fome dos presos políticos. O CCA desenvolveu a luta em defesa do ensino público e gratuito, realizou um plebiscito sobre o ensino pago, e organizou os primeiros encontros de estudantes por áreas. Era a retomada do movimento estudantil.
As iniciativas paulatinas de reorganizar o movimento estudantil eram acompanhadas de brutal reação por parte da ditadura militar. Um dos episódios que marcou essa reação aconteceu no dia 17 de março de 1973, com a prisão e morte de Alexandre Vannucchi Leme, estudante da Geologia da USP. Uma série de manifestações e protestos tomou conta dos cursos da USP e de outras universidades.
A notícia da morte de Vannucchi Leme se espalhou pelo Brasil graças à iniciativa dos colegas que procuraram o recém nomeado Cardeal de São Paulo, D. Paulo Evaristo Arns, para solicitar a realização de uma missa em sua homenagem. Em 30 de março, um dia antes das comemorações do aniversário da ditadura, mais de 4 mil pessoas ocuparam a Catedral da Sé, onde foi celebrada a missa em memória de Alexandre Vannucchi Leme. Do lado de fora da Catedral, um exército de policiais espreitava o movimento.
Em seu sermão, D. Paulo foi hábil em denunciar as arbitrariedades da ditadura. "Só Deus é dono da vida. D'Ele a origem, e só Ele pode decidir o seu fim", e con-tinuou: "E mesmo depois de morto (Cristo), o cadáver foi devolvido à mãe e aos amigos e familiares. Esta justiça lhe fez o representante do poder romano, embora totalmente alheio à Sua missão de Messias", falou D. Paulo numa clara referência ao fato dos militares terem enterrado Vannucchi como indigente no Cemitério de Perus, para esconder a verdadeira causa da morte do rapaz. A missa foi filmada ao vivo por emissoras de televisão. Artistas, professores, intelectuais e jornalistas participaram daquela que foi a primeira manifestação pós-68. Depois da missa, dezenas de prisões foram efetuadas pelas ruas da cidade, o movimento estudantil voltou a declinar em função do cerco da ditadura.
Os estudantes se movimentaram, novamente, em São Paulo no ano de 1975, com a greve estudantil da ECA, deflagrada em 16 de abril, contra a demissão de quatro professores. A greve durou três meses e tornou-se o ponto de partida para a formação da Comissão Universitária, que seria o embrião para a fundação, em março de 1976, do DCE-Livre da USP - Alexandre Vannucchi Leme.
A primeira eleição para o DCE aconteceu em junho, disputada por 5 chapas - Caminhando, Refazendo, Liberdade e Luta - Libelu, Alternativa e Organizar a Luta.
As bandeiras por mais verbas, contra o ensino pago e pela democratização da universidade foram os pontos comuns a todas. As divergências diziam respeito ao papel das entidades do movimento estudantil. Alternativa e Organizar a Luta defendiam a luta contra a Política Educacional do Governo; Libelu e Caminhando eram favoráveis a uma ampla luta pelas liberdades democráticas. Refazendo, a chapa eleita, falava em luta democrática.
Em 16 de outubro de 1976, nos barracos da USP, aconteceu o 1lº ENE - Encontro Nacional dos Estudantes, que reuniu 281 delegados e mais de 500 observadores de 8 Estados, no qual se aprovou uma campanha pelo voto nulo nas eleições municipais de 15 de novembro.
Na volta às aulas, em março de 1977, os estudantes da USP encontraram a universidade ainda mais afundada na crise econômica que começara em 1974. A própria reitoria e o Conselho Universitário, sentindo as proporções do problema, entraram em choque com o governo do Estado na busca de mais recursos para a instituição. Na USP, os estudantes discutiam em assembleias os reflexos dos cortes de verbas sobre as atividades de ensino e pesquisa. Na PUC e em outras particulares, os alunos protestavam contra os aumentos das taxas de anuidade superiores aos 35% fixados pelo Conselho Federal de Educação. Em 30 de março de 1977, depois de diversos protestos em frente à rei-tona da USP, os estudantes saíram em passeata apesar da proibição do governador Paulo Egydio Martins e do Secretário de Segurança Pública, Erasmo Dias.
Impedidos de chegar ao Largo do Arouche por um forte cerco policial, cerca de 3 mil estudantes fizeram uma passeata do campus da USP até o Largo de Pinheiros. Percorreram 3 km, em silêncio, batendo palmas e exibindo faixas e cartazes de protesto contra o ensino pago, por mais verbas para a universidade, contra o aumento das anuidades e contra a alta do custo de vida. Era a primeira vez, depois de quase 10 anos, que os estudantes saiam às ruas em passeata.
Em 1º de abril de 1977, dois dias após essa manifestação, o General Geisel baixou o conhecido Pacote de Abril, que colocou o Congresso Nacional em recesso, e modificou a legislação eleitoral, criando os senadores biônicos e alterando a forma de indicação dos governadores. A medida desencadeou manifestações estudantis em todo o Brasil. A Tribuna Livre da Faculdade de Direito da USP amanheceu no dia seguinte com uma tarja preta, simbolizando o luto dos estudantes.
As manifestações de 1° de Maio de 1977 contaram com a participação do movimento estudantil. Em São Paulo, um dia antes dos protestos no ABC, 8 estudantes e trabalhadores foram presos, acusados pelo Delegado Fleury de pertencerem à organizações subversivas. No dia 03 de maio, seis mil pessoas - mobilizadas pelo DCE da USP e PUC, escolas do interior e capital, a UMES, sindicatos, OAB, MDB, Movimento Feminino pela Anistia - fizeram um ato público de protesto contra as prisões em frente à PUC. Em 5 de maio, outra manifestação, dessa vez, em frente ao Largo São Francisco, de onde partiu uma passeata rumo à Praça da República. Os manifestantes distribuíam uma Carta Aberta à População denunciando as prisões. O povo apoiava a manifestação jogando papel picado pelas janelas dos prédios e engrossando a passeata, que chegou a reunir 10 mil pessoas. No Viaduto do Chá, os manifestantes encontraram uma barreira de policiais chefiada pelo próprio Secretário de Segurança Pública, Erasmo Dias. Outras manifestações pipocavam pelo interior do Estado: Ribeirão Preto, com 2 mil pessoas, em Campinas saíram às ruas mais de 3 mil, São Carlos com mais de 800.
A truculência dos atos da polícia paulista rendeu uma justa homenagem a Erasmo Dias. Nas comemorações do Dia do Estudante, em 11 de agosto, numa passeata noturna em São Paulo com mais de 8 mil estudantes, o Coronel Erasmo Dias foi representado por um gigantesco boneco do King Kong.
Os protestos se sucediam. Em 23 de agosto mais um Dia Nacional de Lutas foi realizado com passeatas e comícios relâmpagos pela cidade. No dia 18 de setembro, 5 mil pessoas pessoas, entre as quais cerca de 2 mil estudantes, participaram do Ato Solene de Solidariedade aos Injustiçados e Oprimidos que terminou em passeata nas ruas da Penha. Neste dia, 52 pessoas foram presas pelo próprio Erasmo Dias.
Enquanto organizavam as manifestações e sofriam as fortes repressões da polícia, naquele movimentado mês de agosto, o movimento estudantil paulista recebeu importante tarefa, organizar em segurança o 1II ENE, que tinha sido impedido de acontecer dias antes na cidade de Belo Horizonte, proibido pelo governo, que tentava evitar a reconstrução da União Nacional dos Estudantes. Reunidos os Centros Acadêmicos da USP, da PUC e outras entidades decidiram realizar o encontro na PUC, no dia 22 de setembro. Apesar dos cuidados para não chamar a atenção da repressão.
Naquele dia, as ruas que davam acesso à PUC amanhecerem repletas de policiais. Estudantes furaram o cerco e conseguiram lotar o TUCA, onde estava marcado um ato, com a presença de D. Paulo Evaristo Arns. A polícia, comandada pelo famigerado Cel. Erasmo Dias, não poupou o campus universitário protegido por lei de ser alvo de repressão, e invadiu a Pontifícia Universidade Católica com bombas, cassetetes elétricos e napalm. Muitos estudantes ficaram feridos com queimaduras graves, num massacre planejado detalhadamente para reprimir o movimento estudantil.
Em agosto de 1977, poucos dias antes da invasão da PUC pela polícia, em meio à efervescência da luta contra a repressão, os estudantes paulistas realizaram um congresso para reorganizar a União Estadual dos Estudantes, a primeira UEE-Livre do país depois de quase uma década. Três mil estudantes e mais de 800 representantes de quase cem entidades estudantis do Estado se reuniram na Poli e aprovaram um estatuto provisório que definia as regras para as atividades do Conselho de Entidades, responsável pela organização da UEE até a realização das eleições diretas em 1978. Duas chapas concorreram, a Construção e a Liberdade e Luta. Ambas propunham basicamente as mesmas instâncias de deliberação para a entidade (Congresso, Conselho de Entidades e Diretoria) e coincidiam na maioria das propostas de luta: por melhores condições de ensino, pelas liberdades democráticas, anistia, direito de greve, fim da ditadura militar e reconstrução da UNE. A chapa vencedora foi a Construção, liderada pelo estudante da Escola Politécnica Arnaldo Calil Pereira Jardim.
A UEE estava voltada para ampliar sua base, construindo CA's e DCE's, entre os quais o CA Vladimir Herzog, da Faculdade Cásper Líbero e o DCE-Livre da Unicamp. Organizou a luta contra o despejo das estudantes da Casa da Universitária de São Paulo - Cusp - e participou da greve da Fatec e da Unesp contra os novos currículos. Neste ano, foi criada a Comissão pró-UNE.
Nos dias 3 e 4 de outubro de 1978, a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP recebeu o IV ENE, do qual participaram 500 delegados de 14 estados. Neste encontro os estudantes marcaram o Congresso de Reconstrução da UNE para Salvador, em 1979.
Para ajudar na estruturação da UEE e na divulgação das lutas e atividades da entidade, a diretoria retomou a publicação do Jornal da UEE. A primeira edição, de setembro de 1978, falava sobre a reconstrução da entidade: "o fato de termos reconstruído a nossa UEE e estarmos realizando o Congresso se liga a isso: nós estudantes estamos lutando, ao lado de todos os setores populares, conquistando a liberdade de nos organizarmos, de nos manifestarmos, de lutarmos pelos nossos interesses. Sim, pois liberdade não se pede, se conquista. Nesse Congresso, portanto, discutiremos aquilo que é o centro de nossas atenções, como da maioria da população: as eleições de 15 de novembro. A crise política que o país atravessa exige um posicionamento claro dos estudantes. Como estamos vendo as greves que se alastram por toda a sociedade? Como estamos encarando as reformas' do Governo Geisel e a "frente nacional de redemocratização"? Sob que ótica estamos vendo as eleições e como poderemos atuar nelas com o objetivo de fortalecer os setores populares e suas organizações? Todas essas questões devem ser respondidas. E a UEE deve respondê-las para que possamos coordenar com maior clareza as lutas do conjunto dos estudantes do estado", diz um trecho do jornal dos estudantes.
Para garantir a estruturação da UEE em todo o Estado, a entidade criou diretorias regionais, com o objetivo de dar mais capilaridade para as atividades e mobilizações. Foram criadas as diretorias regionais do ABC, Bauru, Ribeirão Preto, Campinas, Vale do Paraíba, Baixada Santista. A entidade investiu na comunicação criando o boletim da UEE: O Estudante do ABC, direcionado especialmente para universitários da região.
Nos anos de 1978 e 1979 a bandeira que unificava a sociedade no combate à ditadura era a da Anistia - Ampla, Geral e Irrestrita. Também começavam a acontecer as primeiras greves no ABC Paulista, que contavam com o apoio do movimento estudantil.
Na frente educacional as principais lutas desenvolvidas pela UEE nesses anos foram a defesa da educação pública e gratuita, a defesa da Amazônia, o combate ao aumento abusivo das anuidades nas escolas particulares e a denúncia do vestibular como forma de acesso ao Ensino Superior. No Jornal da UEE de janeiro de 1979, um estudo denunciava que o ensino público paulista oferecia, naquele ano, 8 mil vagas, disputadas por 100 mil estudantes, demonstrando o quadro de abandono da universidade pública.
O repúdio ao regime militar também foi manifestado pela UEE no dia 15 de março de 1979, num protesto organizado pelos estudantes e outras entidades, em frente à Assembleia Legislativa, contra a posse do governador biônico, Paulo Maluf e também do novo presidente da República, o General João Baptista Figueiredo. Entre os protestos contra Maluf, um em particular, no ano de 1980, ganhou forte repercussão: a luta desenvolvida pela UBE para impedir que a capital do Estado de São Paulo fosse transferida para o interior.
Foi também em março que a UEE organizou, no TUCA, um debate que reuniu mais de 1500 pessoas para discutir os contratos de risco para a exploração da Amazônia. Entre os debatedores, estavam personalidades como o Físico Mário Schenberg, o professor Octávio lanni, o Senador do MDB/AM Evandro Carreira, o deputado federal Alberto Goldman MDB/SP, os deputados estaduais Geraldo Siqueira Filho e Irma Passoni, o vereador Benedito Cintra, Plínio Marcos, representando o Sindicato dos Artistas, e Antonio Carlos Ferreira, do Sindicato dos Jornalistas. Esse encontro resultou na elaboração de uma Carta Aberta à População denunciando a proposta do governo de entregar a madeira e outros recursos naturais à exploração de grandes monopólios nacionais e internacionais para pagamento da divida externa, dando prosseguimento à luta iniciada, em 1965, pela UEE.
Depois da realização do IV ENE, em São Paulo, a mobilização para garantir uma grande participação de estudantes no Congresso da UNE, que aconteceria em Salvador, era prioridade nas ações da UEE. A diretoria da entidade se dedicou, também, a elaborar um elenco de propostas que apresentou para o Congresso de Reconstrução da UNE, entre as quais a defesa das eleições diretas. Para ajudar na divulgação e mobilização, os grupos culturais que já atuavam na UEE, desenvolveram uma peça de teatro especificamente para falar da reconstrução da UNE.
No retorno de Salvador, a UEE-SP realizou o processo de eleição direta para a sua segunda diretoria pós-reorganização. Nos dias 30 de agosto e 01 de setembro de 1979, votaram para escolher a diretoria da entidade 63.006 estudantes. A chapa vencedora foi a Voz Ativa, com 18.630 votos. A UEE, que estava sem sede própria, funcionava no CAAE da Faculdade Getúlio Vargas. Entre as principais campanhas dessa gestão estava a luta contra o Pacote Portela, editado pelo Ministro da Educação, que mantinha as entidades estudantis na ilegalidade.
A partir da reorganização, em 1978, até os dias d hoje, a luta contra os aumentos abusivos das mensalidades, em defesa da liberdade de organização estudantil nas instituições privadas e a denúncia do tratamento mercantil dado à Educação tem estado sempre presente na vida da UEE.
Em 1979, num plebiscito realizado pela UEE, 95%, dos votantes disseram não ao ensino privado. Nos dias 1 e 2 de dezembro, a entidade organizou na PUC o 1 Encontro Estadual dos Estudantes das Escolas Paga: para unificar as bandeiras de luta do movimento.
O Congresso da UEE, realizado em junho de 1980, além da plataforma política e educacional, aprovou os estatutos da entidade. Nos dias 24 e 25 de setembro, aconteceu nova eleição para a diretoria, desta vez disputada por três chapas. Foi eleito presidente o estudante Patrício Prado Filho, da USP.
Em 1981, a UNE convocou uma greve nacional de dois dias reivindicando a suplementação de verbas do MEC para as universidades públicas, índice máximo de 39,4% de aumento para as anuidades das faculdades particulares, anistia dos devedores, garantia de 1/5 de representes estudantis nos órgãos colegiados, diretas para reitor, reconhecimento das entidades estudantis, entre outras. Em São Paulo, o comando de greve da UEE foi montado no Centro Acadêmico Oswaldo Cruz - CAOC - da USP. Atividades culturais, seminários e debates aconteceram em todo o Estado.
Entre as bandeiras gerais que ganharam corpo nesse período estava a luta pela Constituinte Livre e Soberana, como foi divulgado no Jornal da UEE de março de 1981: "A Assembleia Nacional Constituinte, livre, soberana e democrática é a bandeira que responde hoje aos anseios do povo brasileiro e dos estudantes, porque coloca a questão do poder, propõe a luta contra o regime como um todo e não contra aspectos isolados de sua política social e econômica. Constituinte significa abrir caminho para a liberdade de manifestação, expressão e organização do povo brasileiro".
Ao lado da luta política, a UEE estava preocupada em ampliar o alcance de suas atividades e criou, em 1981, o Departamento de Esportes da UEE, reafirmando a inclinação do movimento estudantil por diversificação.
Em 1988, os DCE's da USP, Unesp e Unicamp, ao lado das entidades de professores e funcionários das Universidades Estaduais Paulista, fizeram um grande movimento por mais verbas que resultou, em 1989, numa importante conquista: a autonomia universitária, definida por um decreto-lei do governador Orestes Quércia. Pela medida, além da autonomia de gestão financeira, as três universidades estaduais passariam a contar com repasse de 8,4% da cota parte do ICMS.
Apesar da vitória, estudantes, funcionários e docentes das três universidades continuaram a mobilização por mais verbas, o que foi possibilitando o aumento gradual deste índice, até os 9.57% que vigora até hoje.
No ano de 1989, a primeira eleição para presidente desde o golpe militar de 1964 levou milhões de brasileiros às ruas. A vitória de Fernando Collor de Mello e o anúncio do Plano Collor, em março de 1990, desencadearam manifestações por todo o País.
No mesmo ano, a UNE realizou a campanha Educação não rima com Lucro, contra a mercantilização do Ensino Superior. Nesse momento, devido a desarticulação da UBES, o movimento estudantil dentro das instituições privadas, que tinha menos tradição, era praticamente inexistente. A diretoria da UNE, que ficava concentrada em São Paulo, enfrentou os donos de escola e aglutinou os estudantes das particulares.
Em 1983, estouram as mobilizações contra o aumento de mensalidades e por democracia nas universidades. Os estudantes desencadeiam a luta pela legalização da UBE, ingressando com pedido de legalização no 6° Cartório de Oficio de Registro Civil, e com ação rescisória para reaver o registro de 1949.
No 28° Congresso da UEE, realizado entre os dias 07 e 09 de outubro, o bloco de oposição à gestão da entidade saiu vitorioso. Com a presença de 515 delegados, aprovou a proposta de retorno das eleições diretas para a composição da diretoria, que ficou marcada para março de 1984. Até lá, a UEE passou a ter uma coordenação colegiada de 17 membros. A plataforma de lutas aprovada no Congresso foi: o apoio à Greve Geral do dia 25 de outubro convocada pela CUT; não ao aumento das anuidades nas escolas pagas, federalização das escolas falidas e não ao aumento dos bandejões. Logo em seguida, nos dias 15 e 16, a UEE realizou um Congresso de Assistência Estudantil.
Diretas Já! Foi a palavra de ordem que unificou todo o Brasil no ano de 1984. Os estudantes tiveram participação ativa nessa campanha que levou milhões de pessoas às ruas exigindo o fim do Regime Militar. No dia 28 de março, mais de mil estudantes participaram de uma das primeiras manifestações pelas diretas em São Paulo, organizada pela UEE e pela UNE.
A eleição para a diretoria da entidade, marcada para março, só foi realizada nos dias 23 e 24 de maio de 1985. A chapa vitoriosa com 20.329 votos, num total de 58.219, foi a Diretas Já, uma composição entre a Viração e grupos independentes. O presidente eleito foi o estudante Cláudio Senna.
1985, Ano Internacional da Juventude, foi de importantes vitórias para a UEE. Em 19 de abril, depois de muita luta, o governo de São Paulo doou para a UEE, na forma de Comodato, o prédio da Sabesp, na Rua Vergueiro, n° 2.485, para abrigar a sede das entidades estudantis de São Paulo. Outra conquista da UEE foi a obtenção do seu registro legal cassado em 1968. Foi neste ano, ainda, que a UEE passou a ter um acento no Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta, da TV Cultura.
Para comemorar tantas vitórias e reverenciar a juventude, a UNE, UEE, UBES e UMES realizaram no dia 11 de maio, na Praça da Sé, o show de abertura das atividades do Ano Internacional da Juventude, que reuniu mais de 10 mil estudantes. O show teve apoio do governo do Estado e contou com a presença de Carlos Lyra, Jorge Mello, Sá e Guarabira, Língua de Trapo e do ator Paulo Autran.
Depois de ficar dois anos sem realizar seu congresso, a diretoria convocou para os dias 4, 5 e 6 de outubro de 1985, na Unicamp, o 6° Congresso da UEE. As eleições foram marcadas para o ano seguinte mas só aconteceram entre 4 e 7 de julho de 1986. O processo eleitoral foi tumultuado e a precariedade na sua organização levou a vários questionamentos do resultado, o que desembocou em nove ações judiciais e numa apuração que levou mais de 2 meses para ser concluída. A consequência disso foi a desarticulação da UEE, que permaneceu sem diretoria, até ser reconstruída, pela terceira vez, em 1993.
Apesar de não contar com a UEE, o movimento estudantil paulista não encerrou suas atividades entre os anos de 1987 e 1993. Os DCE's e CA's mantiveram a luta educacional e pela democracia no País. Aos poucos, a UNE passou a ter mais presença em São Paulo, auxiliando a organizar os estudantes do Estado.
Os estudantes universitários paulistas começavam, aos poucos, a se rearticular. Uma grande bancada de delegados e observadores representou o estado de São Paulo no Congresso da UNE de 1992, no Rio de Janeiro, que aprova como principal bandeira de luta o Fora Collor!
As manifestações de 11 de agosto, em São Paulo, reuniram mais de 30 mil estudantes na Avenida Paulista. O local de concentração foi o Masp, que a partir de então se tornaria o ponto de referência do movimento estudantil. Sucederam-se várias passeatas. Outra manifestação, poucos dias depois, em 25 de agosto, reuniu mais de 300 mil estudantes. Eram os caras-pintadas que com irreverência e determinação ocuparam as ruas do País.
A ascensão do movimento estudantil no ano de 1992 e o protagonismo político exercido neste marcante episódio da vida brasileira contribuíram para a conquista de um importante direito: a meia-entrada. A Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo aprovou o projeto de lei do deputado estadual Jamil Murad (PCdoB-SP), criando a lei da meia-entrada para estudantes no pagamento de ingressos para atividades culturais (cinemas, teatros, exposições, shows etc), esportivas e de lazer. Pela lei, a garantia do direito se daria mediante a apresentação de documento de identificação estudantil emitido pelas entidades estudantis, UNE e UBES. Essa conquista permitiu que o movimento estudantil viabilizasse a sua estruturação material.
Todo esse movimento mostrou que era a hora de reorganizar a UEE-SP. Reuniões entre entidades estudantis de todo o Estado começaram a preparar a realização do Congresso de Reconstrução da UEE, que aconteceu nos dias 22, 23 e 24 de outubro de 1993, na cidade de Campinas. O estudante da Unitau, Edgar Soares, foi eleito presidente da entidade. Entre as resoluções do Congresso estava a luta contra o pacote FHC, ou Plano Real.
A primeira gestão da UEE-SP desenvolveu as campanhas pelo aumento do percentual do ICMS para as estaduais paulistas de 9,57% para 11% e contra o aumento abusivo das mensalidades nas escolas particulares, além de ter participado intensamente dos debates sobre a LDB. Esse foi um período de reestruturação, de fundação de CA's e DCE's. A UEE também marcou presença nas lutas pela legalização do aborto, em defesa da meia-entrada, contra a redução da maioridade penal para 16 anos, e por uma nova lei de mensalidades para o Brasil.
No ano seguinte a caravana UEE presente, percorreu o estado para divulgar a reconstrução da UEE e estimular a formação de entidades de base, cinquenta e quatro cidades foram visitadas. A UEE também participou ativamente da luta pela estadualização das faculdades de medicina de Marília e São José do Rio Preto.
No início de 1995, o CEE da UEE reuniu nos dias 01 e 02 de abril, na cidade de Taubaté, 181 entidades, no maior Conselho de Entidades até então realizado. Os delegados presentes convocaram o 2° Congresso da Reconstrução para setembro.
Porém, divergências na forma de encaminhamento do congresso e no processo de credenciamentos dos delegados levou a uma ameaça de divisão da entidade. Porém, o Congresso foi mantido e todas as forças políticas que participavam do movimento estudantil respaldaram a realização do 30° Congresso de Reconstrução, que foi dirigido pelo presidente da UNE, Orlando Silva.
Em São José do Rio Preto, de 08 a 10 de setembro, mais de 500 estudantes, dos quais 215 delegados credenciados, aprovaram: o combate à política neoliberal de FHC, a campanha pelo referendo popular sobre as reformas constitucionais, a defesa da TV Cultura, a garantia de liberdade de organização partidária, contra o voto distrital misto, campanha para exigir o cumprimento do artigo 283 da Constituição Estadual, prevendo que 30% das vagas fossem oferecidas no período noturno nas universidades públicas, a criação das universidades públicas do ABC, Vale do Paraíba, Faculdade do Litoral Norte, Sorocaba, Zona Leste e Baixada Santista. O estudante de arquitetura da Unesp de Bauru, Eder Roberto da Silva, foi eleito para presidir a UEE-SP.
A luta contra a política educacional da dupla FHC e Paulo Renato - seu ministro da Educação - deu a tônica das mobilizações do ano de 1996. Em 10 de abril, o presidente da UEE participou do programa Opinião Nacional, na TV Cultura, debatendo o provão com o ministro.
As campanhas contra o governo FHC se fortaleciam a cada dia. A denúncia de compra de votos para aprovar a emenda da reeleição aumentava a insatisfação da sociedade. A expansão desenfreada das instituições particulares de Ensino Superior dava a tônica da política educacional do período.
A UEE retomou a sua comunicação com os estudantes lançando o boletim Circulando, que na sua edição de março de 1997 tinha na chamada de capa "Reeleição e Ensino Pago: Ligações Perigosas", denunciando o beneficiamento de vários deputados ligados à bancada do ensino privado na véspera da votação da reeleição.
Na luta contra o ensino privado, a UEE lançou um "Disque-Mensalidade" para receber denúncias contra as irregularidades cometidas pelas instituições contra os estudantes. Outra iniciativa na área da comunicação da UEE foi parceria com a Rádio Musical FM para colocar no ar o programa Múltipla Escolha, coordenado pelo diretor de comunicação da entidade, Daniel Vaz.
Já reestruturada e consolidada sua referência como entidade representativa dos estudantes paulistas, de 1° a 4 de maio de 1997 aconteceu o 31° Congresso da UEE, na cidade de Americana, que elegeu Anderson Marques, estudante de direito da PUC-Campinas, para a presidência da entidade. O aumento abusivo das mensalidades desencadeia uma série de protestos e blitz em todo o Estado. A UEE-SP realizou campanhas para impedir que os estudantes inadimplentes fossem punidos.
Nas ruas, a escalada da violência fez dos jovens suas principais vítimas. A UEE-SP lançou a campanha Sou da Paz uma iniciativa que tomou conta de São Paulo e se espalhou pelo Brasil. A campanha estimulava a doação de armas de fogo que, em seguida, eram destruídas. Também ganhou força a denúncia da repressão policial. Em 1998, a calourada realizada pela UEE também teve como mote a campanha Sou da Paz, com festas em várias universidades do Estado.
Nessa gestão, uma importante iniciativa organizada por estudantes do Estado deixou grandes marcas no movimento estudantil paulista e, mais uma vez, ganhou o Brasil: o Refazendo, que nasceu de uma reflexão coletiva sobre a necessidade de diversificar o movimento estudantil, com o lema "Refazendo a Universidade e o Movimento Estudantil".
As comemorações do cinquentenário da UEE-SP aconteceram durante a abertura do 32° Congresso, em Sorocaba, entre 08 e 10 de maio. Nele, Daniel Vaz foi eleito presidente da entidade. As principais atividades que marcaram a gestão dos 50 anos foram: a campanha do Trote Cidadão e a realização da 1ª Bienal de Cultura da VEE-SP.
Em abril de 2001, o 33° Congresso da UEE foi realizado na cidade de Bauru, no auge das manifestações pelo Fora FHC. O presidente eleito foi o estudante da Unesp Luis Ricardo de Oliveira.
Menos de 1 ano depois, uma tragédia marcaria a história da UEE. No dia 25 de março de 2002, o presidente da entidade, Luís Ricardo, morreu num acidente automobilístico no interior do Estado. A diretoria se reuniu e decidiu indicar para ocupar a presidência da UEE-SP o estudante de Jornalismo da PUC-Campinas, e então diretor de comunicação da UNE, Gustavo Petta.
A histórica eleição de Luís Inácio Lula da Silva para presidente colocou novos desafios para o movimento estudantil: aproveitar a ascensão ao governo federal de forças políticas comprometidas com a luta do povo brasileiro para resgatar o papel da universidade pública.
Nesse ambiente se realizou o 34° Congresso da UEE, de 1° a 4 de maio, na cidade de São Carlos, com a participação de mais de 2 mil estudantes e 920 delegados. Gustavo Petta foi eleito para presidir a entidade. Porém, no 48° Congresso da UNE, realizado na cidade de Goiânia, no mês de junho, Gustavo foi eleito presidente da União Nacional dos Estudantes. A presidência da UEE fica novamente vaga e a chapa vencedora do Congresso indica a estudante de Psicologia e ex-presidente do DCE da PUC-Campinas, Renata Petta para ocupar a presidência da UEE.
A gestão do biênio 2003-2005 teve como principal desafio levar para o maior número possível de universidades a discussão sobre a Reforma Universitária, e os debates acerca das políticas de democratização do acesso à universidade, como o ProUni e a Reserva de Vagas. Para tanto, a UEE-SP realizou uma Caravana que percorreu mais de 30 cidades. Também foram importantes a luta contra o aumento abusivo de mensalidades e contra a entrada do capital estrangeiro no Ensino Superior.
Na primeira metade dos anos 2000, as lutas e a atuação da UEE-SP seguiram intensas. No 35º Congresso da entidade, realizado em Caconde, no mês de maio de 2005, o estudante de Ciência da Computação e ex-presidente do DCE da Unesp, Augusto Chagas, foi eleito presidente da UEE. O 36º Congresso, em Serra Negra, entre 1º e 3 de junho de 2007, reelegeu Augusto Chagas — o primeiro presidente da história da entidade a ser reconduzido.
O Congresso seguinte, de 2009, elegeu Carlos Eduardo Siqueira, estudante de Filosofia da Universidade São Judas Tadeu. Em Piracicaba, Alexandre Cherno foi eleito no 38º Congresso.
O 39º Congresso da UEE-SP, de 2013, foi histórico. Realizado em Ibiúna, onde o 30º Congresso da UNE havia sido impedido pela polícia durante a ditadura, elegeu a primeira presidenta da entidade, Carina Vitral, abrindo caminho para outras mulheres chegarem ao posto.
Assim foi no 40º Congresso, de 2015, quando foi eleita Flávia Oliveira, estudante de Farmácia na PUC-Campinas, marcando a primeira vez em que uma mulher passava a presidência da entidade para outra. Uma onda feminista havia tomado a entidade e continuou nos anos seguintes. Dezenas de organizações estudantis de base passaram a ter dirigentes mulheres, vindas do movimento real, do chão das universidades. Flávia foi sucedida por Nayara Souza, da Fatec, no 41º Congresso, de 2017, da UEE.
Em 2019, no 42º Congresso, o santista Caio Yudi foi eleito presidente da entidade e foi sucedido por Tainá Wíne no congresso seguinte, o 43º, em 2021. O 44º Congresso da UEE-SP, realizado na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), entre 8 e 10 de setembro de 2023, elegeu Bianca Borges, aos 23 anos. Estudante de Relações Internacionais da Anhembi Morumbi e formada em Direito no Largo São Francisco (USP), Bianca foi secretária executiva da Organização Continental Latino-Americana e Caribenha dos Estudantes (Oclae) entre 2021 e 2023.
A história do movimento estudantil é construída com a participação de homens e mulheres, jovens que se lançam na luta pela defesa do País e da educação. No entanto, ainda são poucas as mulheres que ocupam funções de destaque nas entidades estudantis brasileiras.
Mesmo tendo as características de contestação, de rompimento de padrões culturais, o movimento estudantil reflete as dificuldades históricas e sociais enfrentadas pelas mulheres para terem sua liderança reconhecida. Até 2003, a UEE-SP teve apenas duas mulheres à frente da entidade: Catarina Meloni e Renata Petta. Nos anos 1950, período em que as mulheres eram uma minoria nas universidades, a UEE contou com bravas guerreiras em sua diretoria como Diva Barbaro, Rilda Machado, Gisela Santos, entre tantas outras.
Mas, muitas outras mulheres, várias anônimas outras não, tiveram papel de destaque no movimento estudantil, como Helenira Resende, que era estudante da USP e foi vice-presidente da UNE, presa no Congresso de Ibiúna; e Yara Yavelberg, que foi presidente de centro acadêmico e depois de formada, foi morta pela ditadura.
Depois do período de redemocratização, demorou quase duas décadas para que Renata Petta fosse conduzida à presidência pelo CEE, após a eleição de Gustavo Petta à presidência da UNE. E mais dez anos passariam até que a primeira mulher fosse eleita presidenta da UEE-SP, Carina Vitral.
Carina marcou a história da entidade com uma gestão combativa de valorização das diretoras e das militantes do movimento estudantil em CAs e DCEs. Fez sua sucessora, Flávia Oliveira, que também valorizou as pautas das mulheres no movimento estudantil, em especial as mulheres negras. Depois de Flávia, foi eleita Nayara Souza. Uma trinca de presidentas que iniciou uma reparação não só histórica na UEE, mas também reparação em relação à condição presente de centenas de mulheres que dirigem as organizações estudantis de base (CAs, DAs, DCEs) em todo o estado de São Paulo.
Depois, em 2021 foi eleita Tainá Wíne que também fez sucessora outra mulher, a atual presidenta da UEE-SP, Bianca Borges.